Acordes dissonantes

Sinfônica de São José dos Campos

Na matemática, tudo certo. Na visão política, um traço de miopia ideológica.
O prefeito Felício Ramuth (PSDB) anunciou ontem, via facebook, a decisão de romper o contrato entre a administração e a Orquestra Sinfônica de São José dos Campos, regida pelo maestro Marcelo Stasi.
“Como gestor público tenho obrigação de fazer cumprir meu objetivo de priorizar os serviços essenciais voltados principalmente para as pessoas que mais precisam, tomando decisões difíceis mas que tem que ser tomadas”, disse o prefeito em live, transmitida pouco depois do meio-dia. O gasto com a Sinfônica chega, segundo Felício, a R$ 2,5 milhões, dinheiro que faria falta em setores mais prioritários para a população. A lógica é simples: em tempo de cobertor curto, é preciso rever gastos e prioridades.

Como dizia o radialista Antonio Leite, contra o poder não há salvação.
Felício é o prefeito. E prefeito em início de mandato, eleito com mais de 62% dos votos válido. Tá mais embalado que caminhão na banguela descendo ladeira.

Uma coisa é certa: o governo do PSDB vai mexer em todas as estruturas ligadas à Cultura de São José, consideradas alinhadas ou simpáticas ao PT.
É isso que se ensaia na Fundação Cultural Cassiano Ricardo, com a presença de Aldo Zonzini Filho à frente da entidade, na figura de interventor escalado pela Justiça.  É isso que ocorreu com a Sinfônica, sob o guarda-chuva de corte de gastos. O próximo passo deve ocorrer no comando da OS que gerencia o Parque Vicentina Aranha. Estruturas que são ou foram simpáticas ao ex-prefeito Carlinhos Almeida (PT) serão mudadas, sem só. Faz parte do jogo político? Do jogo político viciado, sim. Muita gente acha que isso é seguir a regra do jogo e fim de papo.

Lamento a extinção da Sinfônica.


Apesar de relativamente nova, a Orquestra é um patrimônio da cidade. Acredito que havia espaço para mexer na estrutura sem acabar com ela, trocar pessoas, trocar seu comando, enxugar valores. Afinal, isso é gestão, não apenas cortar custos pela raiz. Reconstruí-la daqui a alguns anos, como citou Felício, vai ser mais trabalhoso. Espero, para o bem da cidade, que o tempo mostre que Felício e sua equipe estão certos e eu, errado.

Hoje, pessoalmente, acho que não.

Enxergo apenas uma decisão simplista, no lugar de um salutar exercício de reengenharia. Um samba de uma nota só tocado no lugar de Villa-Lobos ...


Em tempo: O título deste artigo, "Acordes Dissonantes", foi extraído da letra de "Tropicália", uma obra-prima de Caetano Veloso

Comentários

  1. Concordo! Esperamos que essa anacrônica estratégia de caça às bruxas não seja instituída e, pior, ampliada às políticas sociais, pois que mais perde com isso é a população. É aconselhável, nesse campo, analisar mais profundamente o alcance das políticas instituídas e, se necessário, como aponta Helcio, modificar seu rumo e não elimina-las. Começo de governo autoritário e presunçoso, que pena!

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  2. concordo com você, Paula, em sua aversão a qualquer caça às bruxas. espero que essa decisão seja revista. afinal, gestão é mais que cortar recursos. abraço

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  3. Uma decisão precipitada e equivocada. É fato que a gestão cultural encontrou na administração anterior muito mais vida. Prova disso foram os inúmeros Piqueniques Sinfônicos que lotaram o Parque Vicentina Aranha e tantas outras apresentações. Nos últimos anos a OSSJC tornou-se parte da cidade e a população se apropriou dela. Espero que a sociedade não fique de braços cruzados assistindo o fim desse importante patrimônio.

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